domingo, 9 de setembro de 2007

A Lâmina e o Forno


Ouvi uma história um tempo atrás, não muito próximo para me lembrar com exatidão, mas não tão distante que me fizesse esquecer.
Falava de um suposto relato feito por um povo descrevendo outro, essa história tinha por objetivo, ou foi usada dessa forma quando me contaram, para mostrar como precisamos entender a cultura de quem escreve para entender melhor sua mensagem. Diz mais ou menos assim essa história:

"Havia um povo com costumes estranhos. Quando se reuniam em seus eventos, preparavam-se com rituais de sacrifício que não os feria, pelo contrário, os deixavam felizes e quem não fazia era até mal visto perante a comunidade nestes eventos. Levavam a sério e o faziam de coração.
Esses rituais de sacrifício eram praticados por eles próprios ou com ajuda de outras pessoas. Os que não faziam por eles mesmos, aguardavam sua vez sem medo, inclusive ficavam ansiosos e aguardavam a vez sempre sorrindo com alegria.
Os homens por exemplo, utilizavam lâminas de fio agudo, muito afiadas e as passavam na face. Passavam essa lâmina por todos os lados sem pausa entre uma estocada e outra, sem nenhuma demonstração de dor. As mulheres introduziam suas cabeças numa espécie de forno e ficavam desse jeito por longos minutos e nenhum sofrimento era visível em seus rostos, pelo contrário: algumas olhavam para o horizonte, com semblante sonhador, outras trocavam entre si seus conhecimentos a respeito das cerimônias que estavam por ir."


Esta história de um povo que ensina a se entregar com alegria aos seus rituais nada mais é que uma interpretação sobre a visão de um povo selvagem observando o nosso povo civilizado se preparando para uma festa. Descreve como os homens fazem barba e as mulheres secam seus cabelos nos salões de cabeleireiros ao prepararem-se para uma festa ou algum evento qualquer. E alerta para a nessecidade de observar bem as escrituras, entender o povo que é observado nelas. Jesus mesmo nos recomendou isso.

Estudando a bíblia, vendo Lucas que escreveu posteriormente e já viu carne na pomba que desceu sobre Jesus(1), quando em Marcos (e Mateus também), diz apenas que o Espírito veio como uma pomba(2) (pousando suavemente? flutuando?), para citar UM EXEMPLO! Vendo os apóstolos, os pais da igreja, as traduções recheadas de interpretações de língua após língua, mudanças com intençoes de "tornar mais fácil" o entendimento, só me fazem entender uma coisa: O Cristianismo é como essa história, uma idéia e entendimento do mundo de então, interpretando algo muito além de seus conhecimentos, mas ditas como Verdade, recheado de interesses e tolices flagrantes, passando de geração para geração, fazendo seus seguidores abandonarem suas vidas para esperar ansiosamente aquele que nos falou do Amor para, como zumbis, nos levantarmos das tumbas nesse juizo final, para sermos selecionados por ele e passar a eternidade ao seu lado enquanto os outros que não se prostraram para esse deus de amor, arderão no lago de fogo para todo o sempre. Amém!...

Após entender que a lâmina passando na face é apenas o ato de se barbear, torna-se impossível o auto-esfolamento.

(1) Lucas III,22: "e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corporal, como pomba,(...)"
(2) Marcos I,10: "E, logo ao subir da água, ele viu os céus se rasgando e o Espírito, como uma pomba, descer sobre ele".

Um comentário:

Éverton disse...

Interessante a ilustraçao.
Creio também que boa parte do 'Cristianismo é como essa história, uma idéia e entendimento do mundo de então, interpretando algo muito além de seus conhecimentos, mas ditas como Verdade, recheado de interesses e tolices flagrantes'.

O reino de DEus mesmo, está em nós.

Abraços!
Inté!