domingo, 23 de setembro de 2007

Igreja: o Príncipe do Mundo

Conversão de Constantino, de Rubens
"Já não conversarei muito convosco, pois o príncipe desse mundo vem; contra mim, ele nada pode, mas é preciso que o mundo saiba que eu amo o Pai e faço como o Pai me odenou.(...)"
(Jo 14,30 e 31)

"Digo-vos isto para que não vos escandalizareis. Expulsar-vos-ão das sinagogas.
Mais ainda: virá a hora em que aquele que vos matar julgará realizar ato de culto a Deus. E isso farão porque não conhecem o Pai nem a mim."


A igreja é o príncipe do mundo dita por Jesus em João.
O Príncipe é o império romano que pegou para si seu inimigo e transformou no deus a ser seguido, sob sua batuta, no mais comum estilo dos deuses greco-romanos.
É a igreja que nasceu disso, seus derivados, seus reformadores e os que protestaram mas sairam da mesma raiz.

Trecho de uma carta enviada pelo imperador Constantino as igrejas do norte da África que se opunham a igreja de Roma (considerando-a pagã):
"que mais pode ser feito por mim, de acordo com a minha prática constante e como verdadeiro oficio de um príncipe após expulsar o erro e destruir opiniões contrarias, que fazer com que todos os homens sejam unidos, sigam a verdadeira religião e simplicidade da vida e prestem ao Deus todo poderoso a adoração que lhe é devida"

Como disse Jesus, foi necessário que viesse para que o mundo soubesse que ele ama o Pai e o Pai o ama. Esse príncipe manteve seu nome vivo, mesmo que por interesse. Agora já o conhecemos e é chegada a hora de nos libertarmos desse príncipe, tirar do meio de nós, todos esses impérios que nunca geraram frutos, apenas intolerância, ganância, hipocrisia, morte, dependência, auto humilhação, falsa felicidade, e tudo mais que nada tem de Cristo, apesar de falar em seu nome.

Disse Nietzche:
"Quando os véus caírem, quando os céus se abrirem, quando o santuário do coração humano for deslacrado, veremos como a religião e sua moral de juízos e certezas, foi satanás na história, e, além disso, foi a principal responsável por afastar milhões, bilhões de homens e mulheres, da genuína experiência de Deus."

A Igreja deveria ser a reunião em nome de Jesus, mas se tornou uma instituição que reúne barganhadores que honestamente, sinceramente acreditaram ser assim, pois isso foi proclamado aos 4 ventos por essa igreja que nos contou sua historia e nós acreditamos e nesses séculos, quem discordou foi morto ou excomungado. Perdem a oportunidade de ter como EXEMPLO uma conduta de vida, um Caminho (não fim).

Tirou de nós o exemplo de alguém como nós que venceu o mundo. Usurpou sua autoridade para ser na Terra o intermediário de nossa suposta salvação.
O que Jesus nos trouxe, foi para que colocássemos em prática, pois somos da mesma espécie ( ou pode um deus ser exemplo para um simples homem?).
A igreja, esse príncipe, colocou tudo isso em segundo plano e nos deu um deus para ser adorado, sendo que para isso, deve a ela a obediência, o dógma e sua vida.
É importante dizer que os homens das igrejas e seus fiéis tem boa intenção (salvo alguns óbvios), mas ainda colhem desse dogma: adorando um deus como se adorava os deuses.
Mas a Verdade não pode ser pisoteada e escondida para sempre. Tudo o que a igreja escondeu de nós está cada vez mais evidente e aparecendo a cada instante.
Fizeram tão bem que mesmo se Jesus viesse novamente, essa igreja faria com que os seus adeptos o negassem e pior: fazer com que persigam os novos seguidores chamando de seita de satanás.

Se Jesus é a Verdade e a Verdade liberta, não dá mais para viver na escravidão dos dogmas da igreja sendo egoistas barganhando nossa salvação ou covardes temendo o inferno. Nossa dedicação deveria ser ao próximo, não esse egoismo que só pensa na prória alma que, convenhamos, não vale nada se pensamos somente em nós mesmos.
E pensar em si, dando ao próximo apenas o convite para viver a mesma ilusão tem se tornado o principal fruto desse príncipe, porque isso significa apenas uma coisa: Alimentá-lo com seus dízimos e o esvaziamento das almas que o segue. E se nos esvaziamos (diferente de se esvaziar para se dar ao próximo) ao ponto de nem querermos questionar, se deixamos de sermos homens, como poderemos amar o próximo como a nós mesmos?




domingo, 9 de setembro de 2007

A Lâmina e o Forno


Ouvi uma história um tempo atrás, não muito próximo para me lembrar com exatidão, mas não tão distante que me fizesse esquecer.
Falava de um suposto relato feito por um povo descrevendo outro, essa história tinha por objetivo, ou foi usada dessa forma quando me contaram, para mostrar como precisamos entender a cultura de quem escreve para entender melhor sua mensagem. Diz mais ou menos assim essa história:

"Havia um povo com costumes estranhos. Quando se reuniam em seus eventos, preparavam-se com rituais de sacrifício que não os feria, pelo contrário, os deixavam felizes e quem não fazia era até mal visto perante a comunidade nestes eventos. Levavam a sério e o faziam de coração.
Esses rituais de sacrifício eram praticados por eles próprios ou com ajuda de outras pessoas. Os que não faziam por eles mesmos, aguardavam sua vez sem medo, inclusive ficavam ansiosos e aguardavam a vez sempre sorrindo com alegria.
Os homens por exemplo, utilizavam lâminas de fio agudo, muito afiadas e as passavam na face. Passavam essa lâmina por todos os lados sem pausa entre uma estocada e outra, sem nenhuma demonstração de dor. As mulheres introduziam suas cabeças numa espécie de forno e ficavam desse jeito por longos minutos e nenhum sofrimento era visível em seus rostos, pelo contrário: algumas olhavam para o horizonte, com semblante sonhador, outras trocavam entre si seus conhecimentos a respeito das cerimônias que estavam por ir."


Esta história de um povo que ensina a se entregar com alegria aos seus rituais nada mais é que uma interpretação sobre a visão de um povo selvagem observando o nosso povo civilizado se preparando para uma festa. Descreve como os homens fazem barba e as mulheres secam seus cabelos nos salões de cabeleireiros ao prepararem-se para uma festa ou algum evento qualquer. E alerta para a nessecidade de observar bem as escrituras, entender o povo que é observado nelas. Jesus mesmo nos recomendou isso.

Estudando a bíblia, vendo Lucas que escreveu posteriormente e já viu carne na pomba que desceu sobre Jesus(1), quando em Marcos (e Mateus também), diz apenas que o Espírito veio como uma pomba(2) (pousando suavemente? flutuando?), para citar UM EXEMPLO! Vendo os apóstolos, os pais da igreja, as traduções recheadas de interpretações de língua após língua, mudanças com intençoes de "tornar mais fácil" o entendimento, só me fazem entender uma coisa: O Cristianismo é como essa história, uma idéia e entendimento do mundo de então, interpretando algo muito além de seus conhecimentos, mas ditas como Verdade, recheado de interesses e tolices flagrantes, passando de geração para geração, fazendo seus seguidores abandonarem suas vidas para esperar ansiosamente aquele que nos falou do Amor para, como zumbis, nos levantarmos das tumbas nesse juizo final, para sermos selecionados por ele e passar a eternidade ao seu lado enquanto os outros que não se prostraram para esse deus de amor, arderão no lago de fogo para todo o sempre. Amém!...

Após entender que a lâmina passando na face é apenas o ato de se barbear, torna-se impossível o auto-esfolamento.

(1) Lucas III,22: "e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corporal, como pomba,(...)"
(2) Marcos I,10: "E, logo ao subir da água, ele viu os céus se rasgando e o Espírito, como uma pomba, descer sobre ele".

domingo, 2 de setembro de 2007

Ver para crer

350px-Caravaggio_-_The_Incredulity_of_Saint_Thomas.jpg

O espírito de Jesus entrou na sala fechada onde se encontravam os dicípulos e Jesus, e após desejar-lhes paz, disse a Tomé:

"Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!" Respondeu-lhe Tomé: "Meu Senhor e meu Deus!"
Jesus lhe disse:
"Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram!"


Ver para crer significaria apenas conferir o corpo em carne de Jesus? Jesus que sempre falou do espírito sobre a carne? Jesus que passou pela porta fechada para entrar na sala?

Jesus, que disse no Evangelho de Tomé: — "Seria uma maravilha se a carne tivesse surgido por causa do espírito. Mas seria a maior das maravilhas se o espírito tivesse surgido por causa do corpo. Estou realmente surpreso pela forma como essa grande riqueza fez morada nessa pobreza." — certamente disse muito mais que isso, afinal a carne e o sangue não herdam o reino dos céus.
Certamente Jesus, quando nos disse que podemos fazer igual e até mais que ele não foi mero jogo de palavras, se nos falou era Verdade, logo, somos da mesma essência. Simples assim.

A vida já é um milagre. A Natureza também. Acaso a Natureza, criação de Deus, não é perfeita? Precisamos derrogá-la, ultrapassá-la para assim torná-la perfeita? Certamente não podemos afirmar que a Natureza seja completamente compreendida, mas enquanto o perecível perece, não há como ter fé no perecível que ressurge sem qualquer desconforto, ainda mais quando a própria fonte que assim fala diz que carne é carne, espírito é espírito
Por que os cristãos, aqueles que representam Jesus, não valorizam o que Jesus nos disse? O que ele nos disse é tão perfeito que ultrapassa qualquer religião, torna-as obsoletas, se cada palavra fosse colocada em prática, o mundo seria realmente melhor e mais justo, mas ainda assim, para seus seguidores, seriam meras palavrinhas bonitinhas se Jesus não fizesse milagres, se não ressucitasse, se ficasse limitado à Natureza criada por Deus.

Que fé é essa que não sobrevive nem a própria obra de Deus, do jeito que ela é?
Melhor milagre seria os cristãos amarem o próximo sem que para isso tivesse que o levar a igreja. Somente viver esta boa nova — que já virou teoria velha e mera isca de igreja — independente do que aconteceu com Jesus após nos dizer isso.


PS: Nessa bela pintura, Caravaggio se preocupou mais em representar na imagem as palavras e na representação realista das personagens, não se preocupando com a beleza delas. Colocou-os rudes como eram os dicípulos de Jesus, homens do povo. No Evangelho, não acredito que Tomé o tocou.

sábado, 1 de setembro de 2007

A fé que depende da ressurreição

Muito me pergunto sobre a fé apoiada na ressurreição de Jesus. Fico espantado como se precisa de um milagre para validar o que Jesus nos trouxe. Penso que se Jesus se tornasse um ladrão bêbado e assassino um dia depois de ter feito o Sermão da Montanha, o que disse lá seria suficiente para mim e levaria para a minha vida, simplesmente bastaria. Não acho que Jesus ressuscitar tenha um peso tão significativo, como algo que substitui toda a sua passagem, que aliás fica em segundo plano, pois a ressurreição basta para quem assim acredita, afinal, ressucitando se tornou deus e acreditar nisso é a porta para a Salvação, como se estivéssemos perdidos e ele, mesmo com todo o exemplo para colocar por terra essa crença, contestada na própria bíblia, fosse um egocêntrico que precisasse disso.

Necessitar desse milagre demonstra que o seu exemplo depende disso. Mas já que se precisa dessa autoridade, será que morrer por isso já não bastaria?

Vejo assim tudo o que Jesus falou como mera estória que justifique o que realmente interessa: dar pretexto para morrer e ressuscitar, para assim fazer por nós aquilo que virou essa justificativa. Ser cristão se tornou algo muito cômodo. Cômodo como a petulância de julgar os outros, acreditando assim que se elevam perante os "incrédulos". Cômodo como idolatrar um totem em vez de ver que esse "totem" é o maior exemplo de amor ao próximo que pisou na Terra e isso deveria ser maior que essa idolatria sem sentido e ser assim um caminho a se viver.

Jesus não é a meta, é o Caminho

É uma pena que o Sermão da Montanha valha menos que esse pseudo milagre, pois veriam que ser pobre de espírito é outra coisa e não isso que cristãos tem se transformado.

Então sobra a pergunta: Se pelo fruto se conhece a árvore, que fazem abrir mão da vida para apenas tirar as pessoas do sol da vida para secarem sob a sombra dessa árvore?

PS: Este blog traz uma enquete a respeito da ressurreição. Vote!